O descompasso entre a demanda e a disponibilidade de profissionais de TI no mercado se agravou na pandemia, com o aquecimento do setor de tecnologia. A abertura de vagas para desenvolvedores e cientistas de dados – duas das ocupações mais recorrentes na área – cresceu 185% no primeiro semestre de 2021 em comparação ao mesmo período do ano passado, segundo a GeekHunter – marketplace especializado em recrutamento de profissionais de TI. Até 2030, o déficit de mão de obra no setor deve passar de 1 milhão de pessoas no Brasil, alerta a consultoria global McKinsey. Essa realidade atinge desde as pequenas às grandes empresas, que passaram a investir em programas internos de capacitação para abrir mais oportunidades de trabalho para quem não tem experiência.
A multinacional de hospedagem de sites e serviços para presença online HostGator, por exemplo, criou, no ano passado, o Starter, programa para colaboradores de qualquer área que querem se tornar desenvolvedores. Ao longo de seis meses, os participantes dividem o tempo entre as atividades do setor de origem e a capacitação. Se aprovados, podem migrar para a nova área. “Com o programa, ajudamos na transição de carreira, um movimento difícil para profissionais de todas as áreas, e ainda conseguimos absorver novos talentos”, afirma Giulianna Boscardin, head de pessoas da HostGator.
Leandro Herrera, fundador e CEO da edtech Tera, observa que a maneira como os adultos se qualificam para o mercado de trabalho está em processo acelerado de disrupção e a tendência é que cada vez mais as empresas tomem a frente da capacitação. “As pessoas irão procurar transicionar de carreira ou se desenvolver para avançar profissionalmente e os métodos tradicionais de educação não darão conta”, diz Herrera. Com aulas 100% online, ao vivo e em formato bootcamp, a startup atua com cursos de Product Management, User Experience Design, Digital Marketing, Data Analytics e Data Science. Já formou mais de 6 mil estudantes e e qualifica colaboradores de mais de 200 empresas, entre elas Itaú e IFood.
A WK Sistemas, empresa de Blumenau, referência em softwares de gestão empresarial (ERP), hoje com cerca de 200 colaboradores, também lançou, em maio deste ano, o programa de imersão para desenvolvedores #Chega++. O objetivo da iniciativa foi capacitar pessoas que já tinham alguma experiência com desenvolvimento de sistemas nas linguagens e tecnologias usadas na empresa. Os selecionados foram contratados com carteira assinada e remunerados desde o primeiro dia do curso, que durou três meses. “Encontrar profissionais qualificados nem sempre é fácil. Por isso, nós investimos em alguns programas internos de formação e todo mundo sai ganhando: o colaborador, que vira um especialista na área, e a empresa, que passa a contar com um quadro de pessoas muito mais qualificado”, comenta Cláudia Rutzen, diretora administrativa da WK. A empresa também tem um programa recorrente de estágio
Essa mudança de estratégia de contratação já reflete na plataforma de recrutamento da Geekhunter, que observou um aumento de 344% nas oportunidades para profissionais pleno, com dois a seis anos de carreira, e 173% para júnior, com até dois anos, no primeiro semestre de 2021. As vagas para desenvolvedores mais experientes, com mais de seis anos de carreira, que eram o maior foco em 2020, tiveram um aumento menor em 2021, de 131%. “Contratar perfis mais experientes é desafiador. Muitas vezes, os RHs não conseguem encontrar o profissional que precisam no tempo que esperam. A consequência disso são vagas abertas por mais tempo e projetos atrasados. Por isso, cada vez mais empresas têm mudado a forma de agir, percebendo qual profissional está aberto para as oportunidades e direcionando os esforços para ajudá-lo no desenvolvimento”, analisa Tomás Ferrari, CEO e fundador da GeekHunter.
Em SC, programa irá formar 225 desenvolvedores em seu primeiro ano
Segundo levantamento da Associação Catarinense de Tecnologia (ACATE), estado que tem o quarto maior ecossistema do Brasil, as empresas de base tecnológica de SC estimam abrir mais de 16 mil novas vagas até 2023 – mais da metade delas para desenvolvedores. Para fortalecer a matriz de formação de profissionais lançou, em parceria com o SENAI, o DEVinHouse, um programa para formação de desenvolvedores em nove meses e com bolsas de estudo integrais.
Empresas parceiras participam do projeto como patrocinadoras, ajudam a definir os conteúdos das aulas e se comprometem a contratar parte dos formados. Na primeira turma, a parceira foi a Softplan, uma das maiores desenvolvedoras de softwares do Brasil, que, mesmo antes da conclusão do curso, já contratou 12 alunos. A expectativa do DEVinHouse é iniciar a formação de 225 desenvolvedores neste ano. “Assim, podemos abastecer as empresas com pessoas qualificadas, gerando renda e emprego, além de fornecer talentos para organizações em qualquer lugar do mundo, por meio do trabalho remoto”, explica o presidente da ACATE, Iomani Engelmann.
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