Já faz algum tempo que a inovação se tornou uma verdadeira obsessão para as empresas. Entendendo que esse é o único caminho para a sobrevivência em um contexto de complexas e profundas transformações, a maioria parece já ter se atentado a essa necessidade. Apesar disso, grande parte delas mal consegue engatinhar no tema.
Prova disso é uma pesquisa realizada pela PALAS, consultoria pioneira na ISO de inovação, a 56.002, que coletou informações sobre inovação em 60 empresas, sendo quase a metade de grande porte. O estudo revelou que 55% das entrevistadas já dispõem de um departamento de inovação, contra 15% que têm apenas um comitê de inovação e 30% que não têm nada. A pesquisa mostrou ainda que 43% afirmam não ter objetivos claros para suas iniciativas de inovação.
Quando questionadas sobre suas infraestruturas para inovar, a grande maioria informou não estar adequada: 35% não possuem processos para inovar, enquanto 41% dizem ter processos desintegrados. Dentre as empresas que já estão mais avançadas nesse quesito, 43% disseram ter um laboratório de inovação, 33% têm parcerias com startups e 25% têm convênios com universidades, a fim de desenvolver a inovação aberta. “A falta de uma governança para a inovação tem feito com que a maioria das empresas até saibam onde querem chegar, mas não façam a menor ideia do que fazer para alcançar seus objetivos. É como se escolhêssemos um destino, mas não traçássemos a rota que nos levará até ele”, alerta Alexandre Pierro, sócio-fundador da PALAS.
O fato fica ainda mais evidente quando vemos que apenas 13% das empresas dispõem de um programa de formação em inovação, que teria como propósito a criação de uma cultura para o tema. Cerca de 15% dizem nunca ter feito absolutamente nada para disseminar conhecimento sobre inovação e, 50% dizem já ter feito algo esporádico, sem uma estrutura e proposta bem definida. Para piorar, em muitas empresas esse despreparo é visto desde os cargos mais altos. Mais de 46% afirmam que nem os próprios líderes passaram por treinamentos de inovação.
Se a empresa não investe em conhecimento, todo o processo de inovação fica prejudicado. E, a consequência aparece claramente na falta de geração de novas ideias para inovar. Tanto é que mais de 38% das empresas afirmam não ter um funil de inovação; contra apenas 26% afirmam ter – mas de forma parcial, sem etapas bem definidas.
Muito mais do que a falta de uma estratégia de inovação e o investimento em um setor exclusivamente dedicado a isso, a falta de recursos financeiros é outro problema recorrente que, infelizmente, causa grandes impactos nesse avanço. Mais de 35% das empresas entrevistadas afirmam não ter budget para inovar. Outros 43% dizem que tem, mas não há uma definição clara sobre a quantia disponível.
Para tentar driblar esses obstáculos e, de alguma forma, dar os primeiros passos para inovar, a grande maioria das empresas usa pesquisas de mercado (25%) e experiências passadas (17%) como forma de antever tendências. Contudo, essa não é uma boa estratégia, altamente passível de falhas. “É como se essas empresas estivessem dirigindo com o olho apenas no retrovisor. Não se constrói o futuro com base no passado. É preciso antecipar comportamentos e se preparar para os clientes do futuro”, enfatiza Marília Cardoso, também sócia-fundadora da PALAS. Infelizmente, menos de 2% afirma recorrer a estratégias mais estruturadas, como o cool hunting, por exemplo. Muitas persistem em buscar conhecimentos somente junto às startups (17%), buscando soluções de fora para dentro e não de dentro para fora.
Esse apego ao passado fica ainda mais evidente quando analisamos as metodologias utilizadas para gerar inovação. Muitas das empresas citaram mais de uma metodologia, sendo que mais de 80% das empresas afirmam usar o Brainstorming, uma abordagem bastante antiga e comprovadamente superficial. Na sequência, aparecem metodologias mais modernas, como Design Thinking (60%) e Agile (58%). Contudo, ferramentas mais inovadoras, como Six Hats (2%) e Lego Serius Play (3%) ainda são pouco utilizadas.
Além disso, muitas das ideias geradas não possuem um fluxo claro e, muito menos, são testadas, aprovadas ou descartadas de acordo com métricas bem estabelecidas. Para aqueles que, de fato, desempenham um bom trabalho, a recompensa e reconhecimento também são escassos. Apenas 23% afirmam ter um programa de recompensas para premiar os autores das melhores ideias.
Os riscos parecem passar despercebidos pela maioria das empresas. Mais de 16% das entrevistadas afirmam nunca ter mensurado e muito menos mitigado riscos de inovação. Em mais de 56% das empresas, o tema já foi avaliado esporadicamente, sem uma política efetiva.
A proteção da propriedade intelectual é outro tema que parece delargado. Mais de 58% dizem não ter processos para registro de patentes e outras formas de proteção. A consequência da falta de processos aparece ainda no estabelecimento de indicadores para mensurar os impactos da inovação. Mais de 38% das empresas afirmam não ter nenhum indicador estabelecido, enquanto 16% têm apenas um. “O ideal seria que as empresas tivessem, no mínimo, cinco indicadores. Afinal, com dizia William Deming, estatístico norte-americano, o que não pode ser medido não pode ser gerenciado”, pontua Pierro.
Com tantos problemas, falta de investimentos e desconhecimento, o que essas empresas esperam conquistar com a inovação? Muitas citaram mais de um objetivo e as respostas foram categóricas: 80% esperam resultados financeiros; 70% buscam melhorias na relação com os clientes; 68% otimização dos processos e 62% melhoria no valor de marca. “O estudo deixa evidente que boa parte das empresas já compreendeu a importância do tema, mas a maioria ainda está completamente perdida sobre como estruturar processos para inovar. É por esse motivo que um modelo testado e aprovado internacionalmente, como o estruturado pelo ISO, vem sendo apontado como a melhor estratégia para criar governança para a inovação”, destaca Marília.
A pesquisa colheu informações de 60 empresas dos setores de construção civil, bancos, energia, saúde, transporte, logística e telecomunicação. Mais de 61% são empresas da área de serviços e 33% da indústria. Mais de 60% dos respondentes ocupam cargos estratégicos, como gerentes, diretores e CEOs.
Sem comentários! Seja o primeiro.