Na mente inquieta da empresária Fernanda Rebel, 34 anos, enxergar inovação no tradicional mercado de café era apenas uma questão de tempo — e de muita pesquisa. Dessa forma, a irreverência da Avesso, empresa de tecnologia de alimentos fundada por Fernanda, não poderia estar apenas no nome. O primeiro lançamento da startup é uma linha de produtos com a praticidade do modelo drip-coffee (café em sachê, preparado direto na xícara) e enriquecida com ingredientes funcionais, como colágeno, lúpulo, canela e café verde.
Ricos em nutrientes, minerais e vitaminas, os cafés funcionais têm como objetivo auxiliar em várias funções corporais, como acelerar o metabolismo, fortalecer o foco e a atenção, amplificar a cognição e aumentar a ação termogênica. Mas, diferentemente dos cafés funcionais solúveis, os produtos da Avesso são filtrados, o que ajuda a manter o sabor original do café.
Para chegar a esse resultado, Fernanda contou com um grupo de pesquisadores da USP. Em 2018, a empreendedora, que é formada em engenharia, decidiu inscrever a ideia no programa Pipe-Fapesp para financiar o estudo. A iniciativa apoia a execução de pesquisa científica e tecnológica em micro, pequenas e médias empresas no estado de São Paulo.
Com a aprovação do projeto, o “laboratório” migrou da cozinha da casa de Fernanda para a SUPERA Parque, incubadora tecnológica da USP, em Ribeirão Preto. Ao longo de dois anos, foi desenvolvida uma nanotecnologia — ciência dedicada à matéria imperceptível ao olho humano — que inicialmente era apenas para “mascarar” o gosto amargo que os ingredientes funcionais possuem. Entretanto, a pesquisa também revelou que, além de mascarar o sabor indesejado, ela também aumenta em mais de 50% a absorção desses nutrientes. Além do café, a solução poderá ainda ser aplicada em outros alimentos, como chocolate, iogurtes, sucos e chás.
Foodtech recebe investimento de Semenzato
Fundada por Fernanda Rebel, de 34 anos, engenheira formada pela UENF (Universidade Estadual do Norte Fluminense), a Avesso foi uma das empresas que participaram da quinta temporada do Shark Tank Brasil, programa de empreendedorismo do canal Sony. Na ocasião, a empresária firmou parceria com o empresário da área de franquias José Carlos Semenzato.
Com um investimento de R$ 290 mil e a estruturação do negócio, a empresa agora se prepara para expandir nacionalmente. Sem lojas físicas, a Avesso comercializa seus produtos no e-commerce por intermédio de distribuidoras regionais. “O próximo passo é a abertura para representantes e distribuidores em todas as capitais brasileiras”, afirma a empresária. Em cinco anos, com a conquista de novos mercados, a projeção de faturamento é de R$ 8 milhões. E essa projeção pode ser ainda maior através do licenciamento da tecnologia para grandes marcas do mercado, que já está sendo desenvolvido pela Avesso.
Para o “tubarão”, o negócio está alinhado com o desejo do consumidor, que está buscando cada vez mais um estilo de vida saudável. “Na contramão de outros setores, o mercado fitness cresceu no Brasil em 2020. A venda de alimentos saudáveis alcançou um recorde no ano passado e movimentou R$ 100 bilhões. A Avesso traz um produto totalmente inovador no momento certo”, explica Semenzato.
“Ser reconhecida por um dos empresários que mais admiro foi algo que aumentou bastante minha autoconfiança como empresária. Além disso, a visibilidade de estar atrelada a alguém como Semenzato está me abrindo muitas portas. Tenho conversado com alguns parceiros e até redes de empórios, e tudo isso por intermédio dele”, compartilha Fernanda.
Uma empreendedora do avesso
Com cerca de R$ 1.500 e o apoio do marido, Fernanda deu os primeiros passos solo no empreendedorismo após pedir demissão do emprego. Além da certeza de que iria trabalhar com café — uma das paixões que traz consigo desde a faculdade — ela sabia que precisava “desenvolver algo que ninguém fez”. O insight de criar uma bebida funcional surgiu depois de Fernanda começar a representar uma empresa que vendia chás. Ao estudar sobre as propriedades das ervas, decidiu que poderia levar esses benefícios para o café.
Na bancada da cozinha, grávida do segundo filho, a engenheira criou os primeiros experimentos. Entre os testes-piloto e o momento de ascensão que a Avesso está vivenciando, Fernanda revela que os seus dias sempre contam com um “terceiro turno”, para dar conta da startup, da casa e da família. Como conseguir? “Coloco todo mundo para dormir às 20 horas, até o marido”, brinca.
Se no início a ideia parecia disruptiva “até demais”, hoje o drip-coffee funcional é um ímã de investidores. Além de Semenzato, a Lund, cervejaria artesanal de Ribeirão Preto, já fechou parceria com a Avesso para a construção de uma fábrica em São Paulo, o que potencializará a produção do café com lúpulo. Além disso, a Avesso já trabalha na fabricação dos cafés em cápsulas compatíveis com Nespresso, que serão lançadas ainda este ano.
Os produtos, que não possuem concorrentes diretos, já chegaram a 10 estados brasileiros. E em breve, com a abertura para revenda, chegará aos demais. E não deve parar por aí. A boa fama do café nacional no exterior pode abrir portas para exportação. Fernanda garante que, com a praticidade, os benefícios e o sabor da bebida da marca, aliados à chegada de Semenzato, a “experiência Avesso” conquistará o Brasil e, logo mais, o mundo. Será só uma questão de tempo.
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