A alta global dos juros básicos e os efeitos ocasionados pela guerra na Ucrânia são fatores que fazem o mercado investidor ir em busca de ativos de uma forma mais segura, tais como renda fixa ou investimentos em empresas consolidadas. Por consequência, o ecossistema de inovação enfrenta dificuldades no levantamento de capital tendo que cortar custos, o que resulta em uma grande onda de demissões. O movimento, que ainda se encontra em fase inicial nos Estados Unidos, já apresenta fortes impactos no Brasil. Kavak, Loft, QuintoAndar e Olist são apenas algumas das startups que recentemente aderiram ao desligamento em massa de colaboradores.
“Até este ano havia um aquecimento no setor que contribuiu para uma concentração excessiva de capital nessas empresas, que se viram pressionadas a entregar diversas frentes de produtos ao mesmo tempo. No entanto, a situação econômica global tende a deixar os orçamentos de organizações com base tecnológica mais apertados nos próximos dois anos, o que afeta a mão de obra porque, em momentos de escassez de recurso, os projetos costumam ser descontinuados e isso faz com que times inteiros de TI sejam desligados”, avalia Daniel Abbud, CEO e sócio-fundador da 7Stars Ventures, holding de investimento em startups em estágio inicial.
Segundo o executivo, essa nova fase do ecossistema vai mexer em um problema antigo no setor: a estrutura entre oferta e demanda. “Esse sistema sempre permaneceu em desequilíbrio. Enquanto havia muitas necessidades a serem supridas no mercado, a falta de profissionais qualificados era evidente. Acredito que daqui para frente essa distorção vai continuar, mas com correções importantes”, ressalta. Em relação aos cargos que mais sofrem com o apagão de talentos, o CEO cita programadores, cientistas de dados, designer UX e líderes c-level.
Com o intuito de impulsionar a escalabilidade de suas mais de 15 startups investidas, a 7Stars encontrou caminhos para se adaptar a todo esse contexto. O primeiro passo tomado a fim de driblar a falta de profissionais de TI foi o desenvolvimento de um centro de excelência. “Percebemos que falar ao mercado como holding tem um impacto diferente de quando é a investida falando por conta própria. Então, decidimos formar um time de recrutadores especializados em TI, que mantém um contato constante com os profissionais do setor sobre a nossa cultura e as oportunidades em aberto, criando um mapeamento altamente qualificado de pessoas dispostas a se engajar com as nossas causas”, explica Abbud.
Em seguida, a holding dedicou-se a desenvolver um recrutamento diferenciado com foco em talentos tanto de tecnologia quanto de outras áreas que queiram atuar em empresas de base tecnológica. “O conhecimento técnico não é um pré-requisito porque nós valorizamos o fit cultural. Ao identificar no profissional uma aderência a nossa cultura, abrimos as portas e proporcionamos um desenvolvimento comportamental e técnico dentro da área em que será inserido”, pontua o CEO. A capacitação que visa trazer mais autoconfiança e segurança ao novo colaborador no dia a dia corporativo acontece por meio do 7Stars Academy.
Ao todo, nos últimos quatro meses as iniciativas renderam 200 contratações desde níveis básicos a C-level, sendo que a intenção é promover mais 700 até o final do ano, alcançando 900 posicionamentos nas investidas.
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