Criada nos anos 1960, a tecnologia que usa computadores e algoritmos para reconhecer rostos humanos ganhou escala há pelo menos uma década, devido ao avanço das redes sociais e da internet. Hoje, essa solução é usada em algum nível nos filtros do Instagram, no desbloqueio dos celulares e até na identificação em aeroportos. Nos últimos anos a novidade foi sua aplicação em meios de pagamentos.
Nem mesmo os rostos com máscara durante a pandemia freou essa expansão. No último um ano e meio, 78% dos consumidores do mundo, buscando reduzir o contato físico no ponto de venda, mudaram a forma como pagam as compras e 67% das pequenas empresas adotaram novas tecnologias de pagamento, segundo a pesquisa da Visa.
Fora do Brasil, a chinesa Ant Financial Services Group já vem fornecendo a ferramenta com esse intuito há cinco anos. Desde seu lançamento, seus dispositivos de Ponto de Venda (PDV), intitulados de Dragonfly, já foram implantados em mais de 300 cidades ao redor da China — onde as grandes capitais praticamente já não usam mais dinheiro em papel. A startup é um dos unicórnios mais valiosos do mundo, valendo um montante de US $150 bilhões. Outro país que está avançando neste setor é a Rússia. O sistema de pagamento foi testado em cerca de 50 supermercados em Moscou durante março deste ano e deve estar disponível em até três mil lojas até o final de 2021, segundo o grupo X5, líder russo de supermercados. A tecnologia foi implementada por meio de uma parceria da Visa e a Sberbank, a principal rede bancária do país. Em entrevista, o gerente-geral russo da Visa disse que 70% dos cidadãos estão agora dispostos a pagar usando dados biométricos.
Ainda tímido no Brasil, grandes empresas e startups estão moldando a opção para o mercado financeiro e preparando os clientes para uma revolução que tem tudo para acontecer em um piscar de olhos. Uma delas é a Payface, iniciadora de pagamentos por meio de reconhecimento facial, que hoje opera com foco no ramo de supermercados e farmácias. Fundada em 2018, o negócio surgiu com o objetivo de reduzir as filas nos estabelecimentos e acelerar o processo de compra. Percebendo a demora para finalizar o pagamento nos varejos, os cofundadores Eládio Isoppo e Ricardo Fritsche decidiram transformar esse processo por meio da tecnologia. Com quase três anos de atuação, a fintech já tem operações nos estados de Santa Catarina, Paraná e São Paulo.
Por que esse pagamento ainda não se popularizou no Brasil? Para Eládio Isoppo, CEO e cofundador da Payface, a resposta está nas poucas empresas que investem nesse tipo de tecnologia. “Todo novo meio de pagamento demora um certo tempo para ser adotado. Quando foi lançado o NFC, também conhecido como pagamento por aproximação, não eram todas as maquininhas que aceitavam”, explica Isoppo. “O reconhecimento facial começou a engatinhar agora, mas a pandemia acelerou muito esse processo. A expectativa de aderência em massa que tínhamos passou de 15 anos para cinco”, completa. No futuro, o CEO acredita que o uso de reconhecimento biométrico irá crescer significamente em três mercados: financeiro, de e-commerce e de serviços (como delivery de comida, transporte pessoal, entre outros).
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