Em 2018, o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) fez uma análise sobre o ciclo de vida de 1.044 startups brasileiras. Das empresas de tecnologia analisadas na época, 30% encerraram suas operações no mesmo ano. Questionados sobre os motivos que levaram ao fim das empresas, 40% dos fundadores culparam a dificuldade de acesso ao capital, um recurso fundamental para que qualquer startup consiga desenvolver seu produto até provar o seu modelo de negócio. Felizmente, essa realidade pode estar mudando, conforme aponta um estudo obtido com exclusividade pela EXAME.
Uma pesquisa feita com 268 investidores entrevistados durante os meses de maio e junho deste ano pela Anjos do Brasil, organização que fomentar no país a prática do investimento-anjo, mostra que o volume desse tipo investimento em startups nunca foi tão alto no país. O investimento-anjo é aquele realizado no começo da operação de uma startup e que geralmente é de apenas alguns milhares de reais.
O valor aportado por investidores-anjo no Brasil mais do que dobrou na última década, passando de 450 milhões reais para pouco mais de 1 bilhão ao fim de 2019. Para este ano, espera-se uma queda de 10% no valor total, por conta da pandemia do novo coronavírus que fez com que os investidores fiquem mais receosos. Entre 2018 e 2019, essa cifra subiu 9%.
O valor médio investido também cresceu, passando de 85 mil reais em 2011 para 129 mil reais ao fim de 2019, alta de 44%. Em relação ao ano passado, o crescimento é bem mais tímido, de 2,3%. “Para que existam mais startups e para que elas sejam mais maduras, é preciso aumentar a pirâmide”, diz Cassio Spina, fundador da Anjos do Brasil. “Isso começa pela base.”
Se cruzados com dados de um estudo da consultoria Transactional Track Records (TTR), que calcula o valor dos investimentos que startups brasileiras receberam desde 2015, o investimento-anjo de 1 bilhão de reais realizado em 2019 já representa quase 11% do valor do total aportado em startups brasileiras no ano passado, contabilizando todos os tipos de investimento, feitos por investidores brasileiros ou não.
De acordo com a TTR, o valor investido em startups brasileiras cresceu mais de 8 vezes entre 2015 e 2019, passando de 1,1 bilhão de reais para 9,7 bilhões no período de cinco anos. O estudo contabiliza todos os investimentos em startups brasileiras, independentemente do país de origem do fundo investidor. Isto é, somando os valores aportados em rodadas feitas apenas por fundos brasileiros, apenas por fundos estrangeiros ou aquelas em que há tanto investidores estrangeiros quando nacionais (chamado de cross-border inbound).
O aumento do valor total e valor médio investido em startups acompanha o crescimento do número de investidores-anjo no Brasil. O país terminou 2019 com 8.220 investidores classificados nesta categoria, 6% a mais do que o registrado em 2018. Desde o começo da década, quando eram 5.300 investidores, este número já saltou 55%.
Ao mesmo tempo que o Brasil ganha mais investidores, o número de startups no país aumenta. De acordo com a Associação Brasileira de Startups (Abstartups), o Brasil terminou 2019 com 12.655 empresas nesta categoria, 26,5% a mais do que em 2018. Na comparação com 2015, os resultados são ainda melhores. Naquele ano eram 4.151 startups. Ou seja, o número triplicou nos últimos cinco anos.
Mas há um problema: a quantidade de investidores e de investimentos não está aumentando na mesma proporção em que crescem o número de startups no país. Por esta razão, pode não haver dinheiro para todo mundo. E nesta disputa, startups que já contam com negócios mais consolidados tendem a sair na frente.
Fonte: Exame
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