A urbanização acelerada, o aumento da população e o envelhecimento tardio nas grandes cidades brasileiras têm levado à superlotação dos cemitérios públicos. Esse problema, que há tempos se arrasta, evidencia a necessidade urgente de repensar as práticas funerárias tradicionais. O que antes era um tema pouco discutido, hoje exige inovação e novas soluções para garantir dignidade e acessibilidade no setor de Death Care, historicamente visto como conservador.
Estamos diante de uma transformação global no setor funerário. E não se trata apenas de resolver problemas logísticos, mas de criar novas experiências que respeitem a diversidade das famílias, o meio ambiente e a evolução dos rituais de despedida. A forma como lidamos com a morte também reflete como a sociedade evolui – e, nesse contexto, inovação não é uma opção, mas uma necessidade.
O impacto da superlotação dos cemitérios no Brasil
Já sentimos os efeitos da superlotação em várias capitais:
- São Paulo: A concessão de 22 cemitérios e um crematório à iniciativa privada elevou os preços e agravou problemas de infraestrutura, como muros desabando e ossadas expostas.
- Rio de Janeiro: Cemitérios municipais praticamente não têm mais vagas, tornando cada novo sepultamento um desafio.
- Fortaleza: Quatro dos cinco cemitérios públicos já atingiram sua capacidade máxima.
- Maceió: A situação chegou ao colapso, com enterros sendo feitos em covas rasas por falta de espaço. Alternativas como cemitérios verticais começam a ser debatidas.
Diante desse cenário, o setor de Death Care tem crescido significativamente e chamado atenção de investidores. O fundo Brazilian Graveyard and Death Care Services FII (CARE11), que investe nesse mercado, valorizou 91,34% em 2022, demonstrando o potencial econômico e a demanda por inovação.
O que realmente é inovação no setor funerário?
Muito se fala sobre tendências como cemitérios verticais, cremação e memoriais digitais, mas a verdadeira inovação vai além de infraestrutura e tecnologia. O setor precisa integrar novas soluções de forma conectada e eficiente, garantindo que a modernização traga acessibilidade, sustentabilidade e uma experiência digna para as famílias.
Acredito que a inovação no Death Care deve transformar o setor de maneira estrutural. Algumas das soluções que propomos incluem:
- Experiências personalizadas no luto – A digitalização pode permitir que famílias organizem despedidas de forma acessível, com plataformas interativas e inteligência artificial para recriação de memórias.
- Infraestrutura sustentável com gestão inteligente – Precisamos de modelos de governança digital para cemitérios e crematórios, otimizando a gestão de espaço e minimizando impactos ambientais.
- Memorialização digital repensada – Mais do que simples páginas online, podemos criar experiências imersivas com realidade aumentada e inteligência artificial, conectando memórias de forma inovadora.
- Planos funerários acessíveis e preditivos – O uso de dados e machine learning pode permitir que pessoas planejem sua despedida de maneira flexível, evitando custos excessivos para suas famílias e garantindo um serviço digno.

A grande questão é: estamos preparados para essa transformação? O Death Care precisa deixar de ser um setor reativo e se tornar um ambiente de inovação contínua, onde tradição e tecnologia caminhem juntas para garantir respeito, acessibilidade e novas formas de honrar aqueles que se vão.
*Eduardo Freire é CEO da FWK Innovation Design, estrategista de inovação corporativa e criador do Project Thinking
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