A gestão do trânsito nas cidades brasileiras pode estar à beira de uma transformação significativa. Enquanto metrópoles como Bengaluru, na Índia, já utilizam gêmeos digitais para simular o comportamento do tráfego urbano, especialistas avaliam que o Brasil reúne condições para adotar a tecnologia e enfrentar desafios crônicos de mobilidade.
Gêmeos digitais são modelos virtuais que replicam ambientes físicos — no caso do trânsito, toda a malha viária de uma cidade. Por meio de sensores, câmeras e algoritmos preditivos, esses sistemas captam dados em tempo real e simulam cenários futuros, permitindo que gestores antecipem problemas como congestionamentos e acidentes.
A urgência da discussão se justifica pelos números. Segundo o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), acidentes de trânsito custam cerca de R$ 50 bilhões por ano ao país, considerando gastos médicos, perdas produtivas e danos materiais. Além disso, o Brasil ultrapassou a marca de 120 milhões de veículos registrados em 2024, de acordo com o Denatran, pressionando ainda mais a infraestrutura das cidades.
Do monitoramento à previsão
Alexandre Krzyzanovski, diretor de Engenharia do Grupo Pumatronix, fabricante nacional de equipamentos para sistemas de transporte inteligente (ITS), explica que a tecnologia representa uma evolução dos sistemas atuais de monitoramento. “Com dados captados por sensores, câmeras OCR e algoritmos preditivos, podemos simular cenários de tráfego, planejar intervenções com base em evidências e reduzir riscos antes que se transformem em problemas reais”, afirma.
A tecnologia já é aplicada em diversos centros urbanos ao redor do mundo. Gestores públicos conseguem testar virtualmente os impactos de obras, alterações em semáforos ou bloqueios temporários antes de implementá-los nas ruas. No Brasil, projetos de fiscalização eletrônica integrada e análise de fluxo veicular em tempo real já criam as bases para essa evolução.
Potencial econômico e ambiental
Além de aumentar a segurança viária, a adoção de soluções preditivas pode gerar benefícios econômicos expressivos. A redução do tempo de deslocamento impacta diretamente no consumo de combustível e nas emissões de CO₂, com reflexos positivos na produtividade urbana e na qualidade de vida da população.
Krzyzanovski destaca que o país tem condições de acelerar essa transição: “Temos uma base tecnológica sólida, profissionais qualificados e uma malha urbana com alto potencial de transformação. O próximo passo é conectar dados de diferentes fontes e investir em inteligência preditiva”.
O executivo resume o desafio das cidades brasileiras: transformar o volume massivo de dados gerados diariamente em decisões ágeis e eficientes. “Mais do que controlar o trânsito, o futuro das cidades passa por prever o movimento antes que ele aconteça”, conclui.

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